Finanças Sustentáveis, por Gustavo Pimentel

Este blog contém reflexões de um observador e ativista das Finanças Sustentáveis, além de organizar e arquivar todos os artigos/notícias de minha autoria ou que citem meu nome, publicados em jornais, revistas e websites sobre o tema.

Thursday, July 26, 2007

Sustentabilidade nos Investimentos

Publicação: Revista Consumidor Moderno (Julho 2007)
www.consumidormoderno.com.br

O Investimento Socialmente Responsável (ISR) é aquele onde se consideram os aspectos sociais, ambientais, éticos e morais na alocação das carteiras, buscando sua sustentabilidade. O ISR vem se fortalecendo nos EUA e Europa, principalmente a partir da década de 1980, mas ainda é uma abordagem incipiente em mercados emergentes.

Existe uma gama de termos para se referir ao conceito de ISR. Nos EUA, os termos mais comuns são Investimento Socialmente Responsável (Socially Responsible Investing - SRI), Investimento Responsável (Responsible Investing) e Investimento Social (Social Investing). Enquanto isso, no Reino Unido e Austrália, é comum o termo Investimento Ético (Ethical Investing). Países com forte tradição ambientalista, tais como Holanda e Alemanha, comumente utilizam Investimento Verde (Green Investing), e na Europa, em geral, o termo preferido é Investimento Sustentável (Sustainable Investing). No Brasil, até agora, o termo mais comum é a tradução do americano, ou seja, Investimento Socialmente Responsável (ISR ou SRI).

A origem do ISR está fortemente ligada à religião. As igrejas e seus fiéis utilizam seus princípios morais para retirar de seu universo de investimentos ações de empresas que atuam em setores que vão de encontro a estes princípios. Nas décadas de 1960 e 1970 o ISR deixou de ser uma modalidade de investimento apenas da comunidade religiosa, devido aos movimentos em prol dos direitos civis e das mulheres, da proteção do meio ambiente e o sentimento geral anti-guerra. A oposição ao apartheid na África do Sul foi o evento de maior repercussão a nível internacional para o ISR, quando nas décadas de 1970 e 1980 houve forte desinvestimento em títulos públicos e ações de empresas com negócios naquele país.

Os anos 1990 marcaram o surgimento de diversos índices de benchmark, como o Dow Jones Sustainability (DJSI) e o Domini Social 400. O mercado começa a contar com gestores de recursos especializados, fundos ISR de gestores tradicionais, empresas de pesquisa e rating socioambiental, associações de investidores e think-tanks em ISR. Em 2006, quando o ISR já representa mais de 10% de todo o mercado de investimentos nos EUA e cresce a um ritmo acelerado na Europa, a ONU lança os Princípios para o Investimento Responsável (UNPRI) e coloca de vez o tema do ISR como alternativa ao mainstream do mercado de investimentos.

O movimento SRI no Brasil é recente, mas avança com velocidade superior a de outros emergentes.

2000 – corretora Unibanco produz pesquisa socioambiental e vende para fundos SRI estrangeiros;
2001 – ABN AMRO Real lança família de fundos Ethical, primeiro SRI da América Latina;
2003 – Abrapp e Ethos lançam a cartilha “Princípios de Responsabilidade Social” para orientar o ISR em fundos de pensão;
2004 – Itaú lança o Fundo Excelência Social, fundo ISR de maior patrimônio líquido atualmente;
2005 – Bovespa lança o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), um benchmark para a indústria de ISR;
2006 – Vários bancos lançam fundos que replicam a carteira do ISE, os chamados fundos espelho;
2007 – 16 fundos de pensão, liderados pela Previ, assinam o UNPRI.

Enquanto o ISE já caminha para sua segunda revisão de critérios e carteira, o movimento de ISR recebe o apoio de diversas entidades representativas do mercado de capitais, começa a ser estudado por instituições acadêmicas e tem cobertura razoável da mídia de negócios. No entanto, o volume de ISR no Brasil é estimado em cerca de R$ 1 bilhão, representando apenas 0,1% do patrimônio dos fundos de investimento no país. O aumento do número de investidores individuais no Brasil, inclusive via planos de previdência, aliado à maior consciência do Brasileiro com relação às questões socioambientais, conforme demonstrou pesquisa CNT/Sensus de maio/2007, deve contribuir para que a demanda por ISR cresça mais rápido que por fundos tradicionais. As instituições financeiras preparadas para oferecerem tal opção largarão na frente para atender ao novo consumidor-investidor.

1 Comments:

At February 26, 2010 11:09 AM, Anonymous Bruno Serafim said...

Gostei de ler sobre as origens do investimento sustentável em seu blog. Eu comecei um blog sobre sustentabilidade em 2007 mas agora estou a tender para a abordagem combinada às finanças em meu blog.
Abraços!

 

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