Finanças Sustentáveis, por Gustavo Pimentel

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Thursday, June 28, 2007

Sustentabilidade dá overbooking na Febraban

Publicação: Eco-Finanças (26/06/2007)
http://www.eco-financas.org.br

O tema "Declaração de Collevecchio - O que fazer e não fazer em um banco sustentável" extrapolou a capacidade do auditório da Febraban em São Paulo no primeiro evento da série "Café com Sustentabilidade", realizado mensalmente pela entidade. Mais de vinte das cerca de oitenta pessoas presentes tiveram que assistir de pé às apresentações de Amigos da Terra - Amazônia Brasileira e Gvces - Centro de Estudos em Sustentabilidade da Faculdade Getúlio Vargas.
Roberto Smeraldi, diretor de Amigos da Terra, apresentou as principais reflexões do documento homônimo ao tema do evento. Desenvolvido pela Bank Track, rede internacional de ONGs que monitoram o setor financeiro privado. O documento foi traduzido e adaptado à realidade nacional pela entidade brasileira. Para Smeraldi, a principal mensagem é de que a sustentabilidade é uma decisão de negócios e os riscos do banco que aborda o assunto de forma marginal podem superar as oportunidades. "Conceitualmente, um banco que tem um departamento de sustentabilidade estaria sugerindo que os outros departamentos não são sustentáveis", comenta o ambientalista.
Na questão das mudanças climáticas, por exemplo, enquanto os bancos começam a assumir compromissos de diminuírem suas emissões de carbono diretas (dos prédios administrativos, agências, viagens, etc), o grande desafio é o de diminuir e se possível neutralizar suas emissões financiadas, ou seja, aquelas realizadas por seus clientes. O discurso no Brasil anda muito à frente da prática, e pode sujeitar os bancos a grandes riscos de reputação, assim como já acontece no hemisfério norte.
Gustavo Pimentel, gerente do Programa Eco-Finanças da Amigos da Terra, demonstrou a mudança de abordagem da sociedade civil brasileira com relação ao assunto. Segundo ele, enquanto em 2000, quando o programa foi iniciado, o esforço era no sentido de introduzir o tema socioambiental aos bancos, hoje o papel é de mantê-los ao dia com os discursos e anseios da sociedade, garantindo uma "licença moral de operação". Pimentel convidou os bancos para um diálogo permanente com a sociedade civil, a fim de evitar antagonismos em torno de projetos específicos, como já acontece no caso das usinas do Rio Madeira, em plena Amazônia.
Mário Monzoni, coordenador do Gvces, fez uma retrospectiva sobre a inserção de questões socioambientais na indústria financeira, que começou com os chamados investidores socialmente responsáveis na década de 60. Ao longo dos anos 80 e início dos 90 os bancos multilaterais começaram a ser questionados pelas ONGs sobre os impactos socioambientais adversos de seus investimentos e começaram a adotar salvaguardas.
A partir do fim da década de 90 a sociedade civil volta seus canhões para os bancos privados, o que culmina com a Declaração de Collevecchio, lançada no Fórum Econômico Mundial de Davos em 2003, cuja resposta dos bancos foi o desenho dos Princípios do Equador no mesmo ano. A Declaração foi assinada por mais de 200 ONGs e sugere que os bancos se comprometam com seis princípios relacionados à sustentabilidade. Monzoni conclui com a provocação de que a sustentabilidade ainda é uma questão marginal na indústria financeira.

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