Finanças Sustentáveis, por Gustavo Pimentel

Este blog contém reflexões de um observador e ativista das Finanças Sustentáveis, além de organizar e arquivar todos os artigos/notícias de minha autoria ou que citem meu nome, publicados em jornais, revistas e websites sobre o tema.

Thursday, May 10, 2007

O falso dilema das ações verdes

Julgamento apressado de novas tendências pode induzir conclusões enviesadas

Publicação: Eco-Finanças - (11/05/2007)
http://www.eco-financas.org.br

Em seu artigo na edição de maio/2007 da Revista Época Negócios, o excelente José Fucs analisa o aparente dilema das ações verdes: quanto os investidores estariam dispostos a sacrificar de seus ganhos em prol de uma consciência tranqüila. O assunto é relevante em meio ao crescimento em todo o mundo, mas também no Brasil, do chamado Investimento Socialmente Responsável (ISR ou SRI na sigla em inglês), aquele no qual investidores consideram o desempenho socioambiental das empresas em que pretendem investir.

O colunista começa justificando o dilema no Brasil ao comparar o desempenho do ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial ao do Ibovespa no período de janeiro de 2006 até março deste ano, onde o índice tradicional superou o de sustentabilidade em 0,5 ponto percentual. Não só a pequena diferença de desempenho seria insuficiente para justificar um dilema, mas a correta observação da série histórica mostra que o ISE ficou acima do Ibovespa durante boa parte de 2006, com desempenho significativamente superior no período de agosto daquele ano à fevereiro deste. Ora, se o artigo fosse escrito naquela época, seria prudente afirmar que as ditas ações verdes são lucrativas?

O articulista continua citando um estudo americano que concluiu, para um determinado universo de fundos de ações tradicionais e ISR nos EUA, que os fundos verdes tiveram desempenho equivalente ou ligeiramente inferior aos convencionais. Esqueceu-se de considerar as centenas de estudos similares realizados nos EUA, que chegaram a diversos tipos de conclusão. Margolis & Walsh (2001) procuraram sintetizar as conclusões de 80 estudos comparativos entre ISR e fundos tradicionais e verificaram que 50% deles atribuíram rentabilidade maior ao ISR, 45% não encontraram diferenças significativas e apenas 5% deram o título de rentabilidade aos fundos convencionais. Ou seja, em 95% dos estudos, o ISR foi superior ou neutro.

O debate nestes termos pode ir longe, sempre haverá um estudo científico novo aqui ou ali corroborando esta ou aquela posição. Todos os estudos são realizados com informações do passado, que não necessariamente se repetirão no futuro. A velocidade de transformação dos mercados e da sociedade torna muito difícil qualquer previsão sobre o sucesso das empresas. Apesar de o desempenho ambiental ser um indicador de boa gestão, nada garante que a mesma resultará em um valor de mercado superior. O que devemos ter em mente na hora de investir é, dado que o investimento em ações é arriscado por natureza e recomendado para horizontes de longo prazo, queremos apostar por apostar, ou arriscar fazendo a coisa certa?

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