Finanças Sustentáveis, por Gustavo Pimentel

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Monday, May 07, 2007

"Sustentabilidade é um conceito marginal na indústria financeira"

Publicação: Eco-Finanças - (02/05/2007)
http://www.eco-financas.org.br

O papel dos bancos para a promoção do desenvolvimento sustentável foi tema de debate no dia 26 de abril, em São Paulo. O painel de discussões, que contou com a presença de renomados especialistas, fez parte do 2° Congresso Ibero - Americano sobre Desenvolvimento Sustentável.
Mário Monzoni, da Fundação Getúlio Vargas, apresentou a evolução do tema sustentabilidade na indústria financeira, traçando um panorama sobre SRI (Investimento Socialmente Responsável, em inglês) e financiamento de projetos. Ele acredita que a pressão da sociedade civil organizada, por intermédio de ONGs, foi determinante para tal evolução. A criação dos Princípios do Equador, por exemplo, é resultante de seguidas campanhas de Friends of the Earth e Rainforest Action Network por critérios socioambientais mais rígidos para concessão de crédito pelos bancos ABN AMRO e Citi, respectivamente. Monzoni argumenta que SRI é a área das finanças sustentáveis que avança mais rápido, com mais de 2 trilhões de dólares só nos EUA e, recentemente, atingindo 1 bilhão de reais no Brasil. Porém, o especialista afirma que ainda assim "sustentabilidade é um conceito marginal na indústria financeira".

Na mesma linha, Roberto Smeraldi, da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, argumentou que, mais do que belas políticas, os bancos precisam desenvolver rigorosos métodos de implementação e transparência de suas operações. "Os bancos não estão preparados ainda para a era do pós-petróleo", disse. Ele levantou os principais desafios do setor financeiro na jornada do desenvolvimento sustentável: passar da mensuração do impacto direto ao indireto e a compatibilização do negócio ao capital natural. No primeiro caso, criticou a operação de financiamento do IFC (Corporação Financeira Internacional, na sigla em inglês) ao frigorífico Bertin, para expansão de sua planta de abate de bovinos em plena Amazônia, cujos impactos indiretos na região foram esquecidos pela área de análise do banco, segundo Smeraldi.
Já Antônio Vives, diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi enfático ao afirmar que "os bancos têm mais responsabilidades que outras corporações". Vives chamou a atenção para o efeito multiplicador que a atitude dos bancos tem sobre o mercado. Além disso, destacou o fato de que cerca de 90% dos empréstimos concedidos por instituições financeiras são feitos com recursos de terceiros, o que aumenta sua responsabilidade para com a sociedade. Bancos públicos, por sua vez, têm responsabilidade junto aos contribuintes. Para concluir, Vives destacou que é necessário ter maior controle sobre os empréstimos interbancários. Esse mercado é comumente negligenciado e algumas instituições podem utilizar os recursos captados para financiar empreendimentos insustentáveis.
Executivos do ABN AMRO Real, IFC e Banco do Brasil procuraram mostrar as ações de suas instituições que contribuem para a sustentabilidade. José Berenguer, do Banco Real, argumenta que o banco inseriu a sustentabilidade em seu DNA, enquanto Fábio Nehme, do IFC, demonstrou suas iniciativas para criar impacto setorial e um mercado sustentável que não dependa do próprio banco.

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