Finanças Sustentáveis, por Gustavo Pimentel

Este blog contém reflexões de um observador e ativista das Finanças Sustentáveis, além de organizar e arquivar todos os artigos/notícias de minha autoria ou que citem meu nome, publicados em jornais, revistas e websites sobre o tema.

Monday, April 30, 2007

Quão real será a sustentabilidade?

Continuidade do posicionamento socioambiental do Banco Real depende do desfecho da venda de seu controlador

Publicação:
Eco-Finanças (26/04/2007)
www.eco-financas.org.br

A possível fusão do maior conglomerado financeiro holandês, ABN AMRO Group, no Brasil controlador do Banco Real e Sudameris, e do terceiro maior conglomerado financeiro britânico, o Barclays, tem despertado a atenção de todos os stakeholders da indústria financeira. Acionistas analisam o potencial retorno de seus investimentos, abastecidos por eufóricos comentários de analistas de mercado sobre a maior fusão de bancos da história. Por outro lado, reguladores e sindicatos preocupam-se com a legalidade da operação e as potenciais 12 mil demissões, principalmente nos países desenvolvidos. A sociedade civil também fica apreensiva: o que será das políticas e atuação socioambiental do ABN AMRO, um dos líderes globais em sustentabilidade na indústria financeira com a incorporação ao Barclays, bem mais fraco nesta área?
O debate fica ainda mais apimentado com a recente proposta e possível oferta liderada pelo Royal Bank of Scotland (RBS), com participação do Fortis Group e Santander. O RBS tem sido duramente criticado pela sociedade civil por se intitular "The Oil & Gas Bank". As ONGs sugerem que o RBS estaria se tornando o financiador das mudanças climáticas caso continue com tal posicionamento. Os três bancos pretendem fatiar o ABN AMRO de forma a melhor enquadrar cada negócio e geografia às suas estruturas. Por exemplo, o RBS ficaria com as operações nos EUA, o Fortis na Holanda e o Santander na Itália e no Brasil.
A polêmica já chegou às terras tupiniquins, com a possível incorporação do Banco Real pelo Santander, o que criaria o maior banco privado do país em volume de ativos, passando Bradesco e Itaú. Mas além de ferir o orgulho nacional, visto que pela primeira vez um banco estrangeiro pode ser líder de mercado no país, se desconhecem as implicações que a mudança de controlador pode trazer para as políticas de sustentabilidade e posicionamento socioambiental do Banco Real, consideradas pioneiras na América Latina. Também se questiona se haveria demissões em massa, como sugere o sindicato dos bancários em recente interpelação ao ministro do trabalho Carlos Lupi.
Para essas duas questões, é preferível a fusão com o Barclays. Isso porque o Banco Real é considerado um "home market" (mercado prioritário) para o ABN AMRO e opera de forma bastante independente de seu controlador por possuir escala no varejo e praticamente todos os outros negócios bancários, tais como financeira, asset management, atacado e private. A diretoria do banco no Brasil goza de muito prestígio perante os executivos e conselho na matriz, sendo responsável pelo crescimento contínuo do resultado e da importância relativa do país dentro do grupo nos últimos anos. Por outro lado, a atual estrutura do Barclays no Brasil conta com apenas 67 pessoas, com foco no atacado e operações de tesouraria, o que praticamente não provocaria redundância de empregos, visto que os bancos Real e Sudameris possuem mais de trinta mil colaboradores. Já uma incorporação ao Santander no Brasil fatalmente geraria muita redundância, principalmente nas áreas de back-office e rede de atendimento. No caso da última, o estado de São Paulo, onde o Santander tem presença maciça devido à estrutura do antigo Banespa, também tem excelente cobertura do Real e Sudameris, o que poderia levar ao fechamento de muitas agências, especialmente na capital e outras grandes cidades do estado. No entanto, a magnitude dos cortes ainda teria de ser estudada.
Analogamente, as políticas socioambientais do Banco Real não devem ser fruto de interferência do Barclays. O banco as desenvolveu localmente, com mínima influência da matriz, e é improvável que o Barclays, também signatário dos Princípios do Equador, queira mudá-las. Já o Santander, que não é signatário dos princípios, pode considerar tais políticas um entrave ao desenvolvimento dos negócios no Brasil. Uma incorporação poderia fazer com que pessoas-chave relacionadas ao tema da sustentabilidade do Banco Real fossem redirecionadas ou tornadas redundantes. No entanto, o banco espanhol teria uma grande oportunidade de incorporar a cultura e posicionamento socioambiental do Banco Real, alavancando sua própria marca e transferindo tecnologia para outras subsidiárias do grupo. O Banco Real figura repetidamente entre as 15 marcas brasileiras de maior valor, segundo ranking da consultoria Interbrands, e grande parte de seu valor e diferenciação advém do comprometimento socioambiental. O Santander, que não figura no ranking, recentemente decidiu manter sua marca como Santander Banespa, capitalizando na reputação do ex-banco público. Além da marca, o modelo de negócios do Real, que busca alinhar-se à sustentabilidade, é um outro ativo que o Santander não deveria enterrar.

1 Comments:

At May 02, 2007 12:08 PM, Blogger Johanna said...

vamos ver o que acontece, mas aqui tb estamos torcendo pelo Barclays (o menos pior), parabens pelo novo trabalho!
bjs,

Johannita

 

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