Finanças Sustentáveis, por Gustavo Pimentel

Este blog contém reflexões de um observador e ativista das Finanças Sustentáveis, além de organizar e arquivar todos os artigos/notícias de minha autoria ou que citem meu nome, publicados em jornais, revistas e websites sobre o tema.

Wednesday, June 13, 2007

BB, ABN e o controverso FT/IFC Sustainable Banking Awards

Publicação: Eco-Finanças (14/06/2007)
http://www.eco-financas.org.br


O Banco do Brasil foi declarado vencedor, no último dia 8, da categoria Banco Sustentável do Ano em Mercados Emergentes – América Latina do controverso FT/IFC Sustainable Banking Awards, já em sua segunda edição. O vencedor da categoria global foi o holandês ABN AMRO, a despeito de sua desastrosa participação no financiamento do campo de petróleo Sakhalin II, na Rússia, e do recente relatório de Amigos da Terra – Holanda (Milieudefense), que atribuiu ao mesmo o título de banco holandês de maior impacto nas mudanças climáticas.

Na tentativa de tornar-se a referência global sobre sustentabilidade de instituições financeiras, o prêmio vem recebendo muitas críticas da sociedade civil organizada. Estas se referem à independência jornalística do Financial Times, a potenciais conflitos de interesse no painel de jurados e falta de transparência nos critérios de seleção.

A parceria do FT com o IFC, braço privado do Banco Mundial, suscita calorosas discussões. O banco de desenvolvimento tem assumido um papel preponderante na inclusão de aspectos socioambientais na análise de crédito, culminando com seus Padrões de Desempenho, que servem de referência para os Princípios do Equador. No entanto, ainda é questionado sobre a devida aplicação de seus critérios em vários dos projetos que financia. Para Doug Norlen, da entidade ambientalista americana Pacific Environment, a associação com um banco como o IFC retira a necessária independência jornalística do Financial Times. “A outorga de um prêmio de sustentabilidade pelo IFC é como se Átila, o Huno, distribuísse prêmios por defesa dos direitos humanos”, diz o ambientalista.

A composição do painel de jurados e certas coincidências com relação aos bancos vencedores fazem o mais ingênuo dos observadores desconfiar de conflitos de interesse e retira credibilidade do prêmio. Um dos jurados é o presidente da PREVI, fundo de pensão patrocinado pelo Banco do Brasil, exatamente o vencedor na categoria Mercados Emergentes – América Latina, deixando em segundo lugar o ABN AMRO Real. Os assessores técnicos do painel de jurados são da empresa de consultoria Sustainable Finance Ltd, que tem entre seus principais clientes o ABN AMRO e o Barclays, exatamente o primeiro e segundo colocado na principal categoria do prêmio. Longe de desconfiar da ética de tais jurados e assessores, a sociedade civil alerta para os erros básicos na governança do processo de seleção, que poderiam ser facilmente evitados com a nomeação exclusiva de atores sem nenhum potencial conflito de interesse.

Para finalizar, a falta de transparência nos critérios de seleção apenas reforça a desconfiança sobre a independência jornalística do FT e os potenciais conflitos de interesse dos jurados. Ademais, vários bancos premiados estão envolvidos em operações controversas onde são desafiados a provar que realmente seguiram a risca suas políticas socioambientais. Uma coletânea dessas operações pode ser encontrada no sítio
www.banktrack.org

O Banco do Brasil ganhou devido ao sucesso de sua estratégia negocial chamada DRS – Desenvolvimento Regional Sustentável, que visa inserir comunidades menos favorecidas em processo produtivo e garantir renda a partir do aproveitamento das potencialidades regionais. Estratégia considerada inovadora, mas com apenas 314 milhões de reais emprestados, frente a uma carteira de crédito total em 2006 de 133 bilhões (0,002%), é pouco para ganhar um prêmio internacional e se auto-intitular “O Banco da Sustentabilidade”, como fez o BB em sua recente campanha publicitária. Enquanto o discurso da sustentabilidade no setor bancário continuar à frente da prática, a munição da sociedade contra os bancos será recurso renovável.

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