Finanças Sustentáveis, por Gustavo Pimentel

Este blog contém reflexões de um observador e ativista das Finanças Sustentáveis, além de organizar e arquivar todos os artigos/notícias de minha autoria ou que citem meu nome, publicados em jornais, revistas e websites sobre o tema.

Wednesday, June 13, 2007

BNDES e as mudanças climáticas

Publicação: Eco-Finanças (08/06/2007)
http://www.eco-financas.org.br

Em meio à comemoração pelo Dia Mundial do Meio Ambiente, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, anunciou um pacote de medidas para adequar a atuação do banco ao novo paradigma das mudanças climáticas. O anúncio foi recebido em um contexto de grande ansiedade sobre a atuação socioambiental do banco em função do discurso de posse de Coutinho, o primeiro de um presidente do BNDES a abordar tais questões. Entre as medidas adotadas está a assinatura da Declaração do Setor Financeiro sobre as Mudanças Climáticas, comprometendo-se a inserir a questão em todos os seus produtos e processos de financiamento e investimento, além da trabalhar para a neutralização de suas emissões diretas. Outros medidas são mais específicas, como a criação de um fundo para financiar projetos de MDL, o mandato para o Banco do Brasil operar seu programa de Eficiência Energética (ProEsco) e novas cláusulas na política ambiental que restringe desmatamento e se compromete com o Zoneamento Econômico-Ecológico.

Os bancos têm papel fundamental no funcionamento de uma economia de mercado, ao realocar recursos financeiros escassos dos agentes poupadores para os agentes tomadores. Seu impacto sobre o ambiente de negócios é tremendo, tendo capacidade de definir tendências e novos padrões de competição. Em um mundo onde as emissões de carbono ficam mais restritas, os bancos podem ser os grandes agentes de transformação das empresas que financiam e investem. Internacionalmente, o foco das políticas sobre mudanças climáticas dos bancos têm saído do impacto direto de suas operações (prédios administrativos, viagens, etc) para os impactos indiretos, causados por seus clientes. Muitos bancos são signatários do Carbon Disclosure Project (CDP), uma coalizão de investidores institucionais com ativos da ordem de 41 trilhões de dólares, pedindo transparência com relação às emissões e riscos associados às mudanças climáticas a mais de 2400 empresas em todo o mundo. No Brasil, Bradesco, Pine, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal são signatários, junto a vários fundos de pensão e gestores de recursos.

O BNDES tem uma grande oportunidade de estar na vanguarda do movimento no Brasil, ajudando a definir padrões para o mercado de bancos privados. Além das medidas já anunciadas, extremamente positivas, deveria assinar o CDP e passar a requisitar as emissões e políticas para os novos projetos de financiamento e clientes que chegam ao banco. Em um segundo momento, pode requisitar estas informações aos projetos e clientes que já estão em carteira. A partir daí começa o seu papel de indutor, com o possível estabelecimento de condicionantes para aprovação e desembolso, diferenciação de spread para financiamentos de acordo com a intensidade de carbono e criação de mecanismos contratuais que estimulem a eco-eficiência e conformidade com as melhores práticas internacionais. A importância do banco para o financiamento do setor produtivo nacional pode levar a um novo patamar o nível de relato das empresas brasileiras com relação às questões ambientais.

O banco com isso só tem a ganhar, com a mitigação de riscos de crédito advindos de riscos ambientais de seus clientes, diminuição do risco reputacional e melhor acesso a linhas de crédito de organismos internacionais, além do efetivo cumprimento de sua missão institucional de motor do desenvolvimento nacional, com equilíbrio entre a prosperidade econômica, a inclusão social e a preservação ambiental. A sociedade civil organizada está de olho na atuação do banco e cobrará mais do nunca a transparência na implementação de suas políticas operacionais e socioambientais, o que ultimamente tem sido o calcanhar de aquiles do banco.

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